Um livro de ficção com representatividade é capaz de confrontar sujeitos, ressignificar imaginários e até de situar esses sujeitos no mundo com possibilidades crescentes de transformações para equidade e proporcionalidade social à medida que a ficção transcender páginas e estabelecer diálogos com a realidade.
O que é o Leia Representatividade:
Criado em 2018 pelas irmãs Pétala Souza e Isa Souza, o projeto se propõe a ser um provocador de reflexões sociais sobre narrativas representativas, reais e ficcionais, de grupos minorizados. O projeto Leia Representatividade é uma ação criada para incentivar o uso da literatura na compreensão das desigualdades sociais, nos desafiando a ler criticamente e questionar a representação de grupos minorizados em narrativas ficcionias como uma forma de combater a estigmatização, subalternização e desumanização desses grupos no imaginário social.
POR QUE LER REPRESENTATIVIDADE REALMENTE IMPORTA?
Representatividade é um conceito que traduz interações e construções sociais e sofre alterações de sentido em cada contexto. É preciso que se pense representatividade dentro de contexto e sob a perspectiva do meio onde essa representatividade se constrói.
Representatividade é sempre política, o conceito nasceu na política. Falar sobre representatividade é falar sobre alguém em posição de poder, autorizado a falar em nome da coletividade que representada. Mas também é um conceito amplo, entender representatividade como sendo é uma coisa só, tende a análises simplistas e equivocadas em alguns contextos. “Política representativa” é um conceito diferente de “livro representativo”, que também deve ser discutido sob uma perspectiva diferente de “representatividade na propaganda”, e por aí vai. Porém, em todos os contextos representatividade é mais do que apenas visibilidade, é sobre lugar de poder.
Quando falamos #LeiaRepresentatividade, estamos falando da leitura de “narrativas representativas”. Falamos de uma forma autêntica de dar, não apenas visibilidade, mas poder narrativo a grupos sociais cujas narrativas de vivências, expressões de anseios e visões de mundo estejam histórica e estruturalmente marginalizadas ou apagadas.
Narrativa representativa tem como princípio o entendimento de que a literatura é sobre representações sociais e tem poder para delimitar espaços sociais no imaginário do leitor.
Um livro de ficção com representatividade é capaz de confrontar sujeitos, ressignificar imaginários e até de situar esses sujeitos no mundo com possibilidades crescentes de transformações para equidade e proporcionalidade social à medida que a ficção transcender páginas e estabelecer diálogos com a realidade.
REPRESENTAÇÃO NÃO É REPRESENTATIVIDADE
O conceito de REPRESENTATIVIDADE, tem sido esvaziado pela publicidade, pelo capitalismo e pela falta de entendimento no geral sobre seu significado político.
Representatividade é um conceito político e fala mais sobre proporcionalidade de poder do que apenas de visibilidade. Não é preciso inventar novos termos pra resgatar o entendimento disso.
Novos ternos também serão facilmente esvaziados quando se tornarem “termos da moda”, como acontece com “lugar de fala”, “racismo estrutural” e outros. É preciso diálogo e aprofundamento nas reivindicações a partir dos conceitos que se tornam conhecidos pelo povo. O academicismo insiste que a solução está em despertar novos termos, novos dialetos de luta quando chegam ao povo desviado pela grande mídia. Será mesmo? Acho que a solução é aproximar o povo dos verdadeiros significados.
As mídias culturais populares como cinema, música e a literatura naturalizam os lugares sociais de pertencimentos identitários, os lugares marcados de acordo com as identidades dos sujeitos sociais. O consumo dessas produções ajuda a formar o padrão das representações hegemônicas. A gente concorda com o Stuart Hall quando ele diz, no livro “Da Diápora: identidades e mediações culturais”, que as identidades são mutáveis de acordo as diferentes identidades com as quais confrontamos nas representações.
Para efeito representativo é essencial que as representações que confrontam hegemonias estejam em lugar de poder narrativo, que suas vivências se desloquem da margem para o centro e que suas especificidades se façam presentes visibilizando pautas políticas e subjetividades de vivências do grupo pelo qual ela reivindicar proporcionalidade de poder social. Para ser representativivo é preciso que tenha voz e espaço suficiente para carregar suas próprias subjetividades enquanto indivíduo e, ao mesmo tempo, abrir espaço para a legitimidade da pluriversidade das vivências do grupo que representa.
Sendo assim, não há representatividade sem protagonismo e todo protagonismo tem função representativa para um grupo social.
HISTÓRICO DO LEIA REPRESENTATIVIDADE
Lançamos o #LeiaRepresentatividade em junho de 2018. Queríamos criar entre os leitores que estivessem dispostos, um movimento em direção à desconstrução das normatividades do imaginário, que invisibiliza e desumaniza existências ajudando na manutenção de desigualdades sociais. A ação, desde o início, pretendia encorajar leitores a ir além do que chega mais fácil nas nossas mãos, do que tem mais espaço e visibilidade no mercado literário, para buscar ler mais narrativas de grupos minorizados e marginalizados socialmente. Indo contra a falta de espaço dessas publicações, incentivamos os leitores a postarem essas leituras em suas redes com a hashtag #LeiaRepresentatividade. A ideia era criar na hashtag oficial do projeto, um grande painel colaborativo de livros de diversas representatividades, de forma dinâmica e coletivizada. Entrando na hashtag hoje, dá pra ver de forma mais concreta o quanto podemos incentivar o mercado editorial a investir mais em publicações que tornem a literatura mais plural. Ter consciência disso não torna o hábito de leitura menos prazeroso, mas adiciona a esse hábito a compreensão do quanto nossas escolhas de leituras também podem ser um ato político. Ler é consumir literatura e todo consumo, numa sociedade capitalista como a que vivemos, tem um impacto social.
Ação de 2022 – Desafio Leia Representatividade – Ano 4
Ação de 2021 – Desafio Leia Representatividade – Ano 3
Ação de 2020 – Desafio Leia Representatividade – Ano 2
Ação de 2019 – Desafio Leia Representatividade – Ano 1
Ação de 2018 – Criação do projeto com lançamento da #LeiaRepresentatividade e início da série de postagens de reflexões e incentivos à leitura representativa.